Salgadinhos.. não !!
Se a mãe botar no prato, o bebê come...Eles nem engatinham e já comem batata frita. Uma pesquisa do Instituto Marplan mostrou que as mães brasileiras têm o hábito de oferecer a seus bebês todo tipo de alimentos calóricos, pouco nutritivos, com excesso de gordura, sal e açúcar. Nesta matéria da revista ÈPOCA, detalhes desse vilão do mundo moderno.
Aos 5 meses, quando ainda deveriam estar mamando, sete a cada dez crianças têm no cardápio biscoitos recheados e salgadinhos industrializados, para o desespero dos pediatras e nutricionistas. A falta de tempo não é desculpa. A maioria das 1.200 entrevistadas em cinco capitais não trabalha fora. A dieta politicamente incorreta também não escolhe classe social. As mães acham mesmo que refrigerante na mamadeira pode ser bom para seus filhos.
A pesquisa foi feita a pedido da Gerber. A indústria de alimentos infantis queria saber por que a compra de papinhas industrializadas é tão baixa no Brasil.
Acabou contribuindo para a descoberta de que as mães precisam ter mais informação sobre o que dar a seus bebês. Primeiros colocados no ranking, biscoitos e salgadinhos - ricos em açúcar, gordura e sal em quantidade excessiva para uma criança nessa idade - são consumidos por 88% das crianças com idade entre 5 e 18 meses. Na ordem de preferência, estão bolos, batata frita, docinhos de festa e refrigerantes. 'São vários os prejuízos de uma alimentação incorreta.
A curto prazo, a criança pode ter cáries e, no futuro, pode desenvolver problemas cardiovasculares, hipertensão e obesidade em decorrência dos excessos de gordura e sal', alerta a nutricionista Pérola Ribeiro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 'Ninguém está dizendo que bolachas ou salgadinhos não são gostosos. Esses alimentos existem, mas devem ser dados com restrições de quantidade e em maiores intervalos de tempo', ensina o pediatra Glaucio José Granja de Abreu.
Quanto mais tardia a introdução desses produtos na alimentação, melhor. Diante da dificuldade em resistir aos pedidos e apelos da TV, as mães podem oferecê-los aos filhos a partir dos 2 anos de idade. Com intervalos de tempo de até 15 dias e sempre em pequenas quantidades. 'Somente uma pequena minoria consegue chegar à vida adulta com uma alimentação saudável. Hoje, a má alimentação é um problema mundial', lamenta o pediatra.
Nos Estados Unidos, o governo constatou uma realidade do mundo contemporâneo: há uma epidemia de obesidade infantil, fruto da alimentação à base de junk food. Em Nova York, a venda de doces e refrigerantes será proibida a partir de setembro em escolas da rede pública. Além disso, os cardápios dos colégios serão desenvolvidos com o objetivo de estimular hábitos alimentares saudáveis.
A tentativa americana de corrigir os problemas pode até surtir algum efeito, mas comer é algo que se aprende dentro de casa. A pesquisa mostra que as crianças brasileiras adquirem maus hábitos e têm alimentação deficitária em proteínas, fibras e minerais por iniciativa das mães. Em geral, com a melhor das intenções. 'Na introdução de alimentos sólidos na dieta, as mães acreditam que podem dar às crianças o mesmo que a família come em casa. Isso acaba acontecendo por uma questão de hábito, só que essas crianças estão ingerindo mais gordura e sal do que necessitam', diz Pérola.
PREJUÍZOS DA MÁ ALIMENTAÇÃO
A curto prazo ..........diarréias e cáries
A longo prazo ........tendência à obesidade, hipertensão, problemas cardiovasculares e respiratórios, flacidez nos músculos da face, danos dentários, gastrites, úlceras, cálculos renais .
Fonoaudiólogos também apontam os maus resultados dos hábitos alimentares da geração batata frita. As mães optam por comidas mais rápidas e fáceis e não ensinam a comer. Quanto menos se mastiga, menor é o desenvolvimento da musculatura do rosto, o que pode levar a criança a respirar de boca aberta. Maus hábitos alimentares também levam à aquisição de deformidades dentárias e de mordida. 'Atualmente, as crianças não mastigam.
Em conseqüência, não se acostumam a comer. Daí, as mães se desesperam e optam por doces e salgados, que têm uma melhor aceitação. Pronto. A criança só passa a comer isso', reclama a fonoaudióloga Irene Marchesan, do Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica (Cefac). A melhor forma de garantir alimentação de qualidade aos filhos ainda é o bom exemplo dos pais.
Se a família come bem, a criança aprenderá bons hábitos e crescerá saudável.
Revista época por PALOMA COTES